CONTRADIÇÕES
Ao escrever minhas crônicas sinto-me dividido entre dois bons aspectos: a ânsia de escrever aos que compartilham a problemática da convivência com a doença de Parkinson e as contingências que, às vezes, uma só palavra provoca. São justamente essas diferentes reações produzidas pelas palavras que alimenta a minha responsabilidade de escrever e socializar na internet. Cria-se um eterno compromisso de escrever e preservar as amizades que cativamos.
Esse sempre foi preponderantemente um dos precípuos que norteiam a minha cotidiana vontade de escrever. Cotidiano eivado de alegria e mesclado com meu choro. Às vezes, uma lagrima contrasta com um sorriso. Juntas vão tecendo meu dia a dia num embate com o que eu quero dizer e a tentativa de minimizar meu sentimento de fraqueza, muitas vezes vencido pela constância de minha fé.
Essas contradições se tornaram marcante em minha convivência com Mr. Parkinson, talvez pela elevada incidência da constante alternância dos sintomas da doença em meu corpo o que provoca, também, mudanças no meu comportamento. Uma hora é a rigidez que incomoda me transformando em um ser quase imóvel. É a sensação de que esta passando por um processo de cristalização. Recorro à literatura e descubro que a rigidez é um aumento do tônus muscular (lá vai eu procurar no dicionário a palavra tônus) desencadeado durante o movimento passivo dos membros, pescoço ou tronco através de toda amplitude de movimento.
As variações entre rigidez, tremor e alterações do equilíbrio postural adicionadas as alterações emocionais como depressão levam o parkinsoniano ao desejo de isolar-se, seja pela alternância das condições físicas ou pela intensidade das condições emocionais. Essa vontade é a que tenho combatido com mais veemência e com mais cuidado porque é a que mais afeta em toda patologia. A vontade de ficar isolado é prenuncio de depressão, da tristeza. Para se ter uma ideia desse sentimento fui buscar varias palavras que externem o verdadeiro sentido da depressão: pesaroso, deprimido, atormentado, abatido, chocado, debilitado, melancólico, desesperado, indefeso, miserável, angustiado e desencorajado. Essas palavras soltas já provocam medo, imaginem juntas em um portador da doença de parkinson. Essa soma recai sobre a família de forma sempre tempestuosa elevando o grau de angustia para todos.
A angustia traz em seu arcabouço o medo e a passividade obstruindo os desejos e as vontades, a tristeza se transforma em desesperança. Neste cenário não existe quem ignore tanta resignação e este é o cenário triste onde toda a família é afetada, pois como afirma Paul Ekman: “podemos desviar o olhar de um rosto, mas não conseguimos escapar do som de uma emoção.” O som do choro, os lamentos de uma angustia, os ruídos das impaciências, as palavras fortes de contestação da doença, tudo isso caracteriza o quadro geral do isolamento parkinsoniano.
Neste momento é sumamente necessário o apoio social, a atenção dos amigos e, sobretudo, o amor da família permitindo que a pessoa resgate sua autoestima e preserve sua energia para restabelecer o sentido de “querer mudar a situação”. Isso é fundamental no processo de recuperação e saída do isolamento.
Quero enfatizar que o conteúdo desta crônica quer retratar não a minha experiência com o isolamento em si, mas como a vivencia preventiva pode evitá-lo. O fato de eu relatar a depressão vem das minhas leituras acerca da doença que gosto de compartilhar com o meus leitores. Inclusive, quando comecei o texto, minha intenção era falar apenas de minhas contradições. Quando percebi, estava dividido pelos dois aspecto mencionados logo no primeiro parágrafo.
Tinha na mente as ideias, mas as palavras que proliferavam ao bater de cada tecla fluíam do meu coração. Os poetas diriam ser um conflito entre o cérebro e o coração. Eu aprendi com Paulo Freire que esses fatos caracterizam contradições. “Deixem-me viver minhas contradições” afirmava sempre Paulo Freire. Viver com Parkinson é viver com as contradições, por isso, repito Paulo Freire com novas palavras e convido todos os parkinsonianos a fazer o mesmo “deixem-me também escrever minhas contradições”. Escrevam ou falem de suas contradições, não convivam com a cultura do silêncio e não se entreguem ao futuro, muito antes do futuro chegar.
Excelente articulo , felicidades , muy buena redacción , y el hablar de contadicciones no es malo, sino que surgen palabras del corazón que se escriben cuando se sienten , y hablar de la depresión , es decir que en el mundo parkinsoniano hay de dos tipos depresivos y no depresivos, y los depresivos caemos en un mundo inimaginable, de algo que entra a nuestro cuerpo , y es dificil sacarlo , sé que va a pasar , pero hasta cuando ? y pasará de éso estoy segura , y asi pasa a infinidad de personas que la padecemos , en lo particular hace mucho tiempo que no tengo depresión,y lo mejor es mantener la mente ocupada en cosas positivas para no caer en ella ...gracias Domingos , un abrazo !!
ResponderExcluirÉ muito bom ler suas crônicas é isso ai o importante é jogar para fora todas as angustias e passar aos amigos coisas boas e positivas.
ResponderExcluirAbs
Badu