ESCREVER PARA DEUS



Muito distante de escrever com domínio do assunto insisto em permanecer escrevendo minhas crônicas, mesmo quando escrevo e leio apenas para mim. Não é egoísmo, mas zelo pelas coisas que escrevo para socialização de minha vivencia cotidiana com o Parkinson. É uma maneira de conviver com Mr. Parkinson sem ele perturbar a minha própria inércia. Assim dia a dia vou superando as adversidades da doença que são no mínimo 04 formas distintas que afeta seu corpo, sua mente e sua vida. Tremor , rigidez, instabilidade postural e dificuldades de movimentos.
Esse caminho que escolhi de escrever surgiu aleatoriamente e seguir é uma decisão pessoal, mas também se insere na vontade de servir e ajudar por essa razão não sei afirmar se procede a afirmação da ausência do domínio do assunto, pois a vontade emerge antes do saber; quando estou escrevendo e daí resulta no fluxo de experiência que relato e socializo com alegria e concluo já pensando em uma nova crônica. Cabe aqui o pensamento de Antonio Machado: “caminhante não há caminho, o caminho faz-se caminho ao andar”. Compreender Machado é compreender-me em minha vontade de escrever, ou seja, vou escrevendo e descobrindo a escrita, escrevendo vou encontrando com a verdade que esta em mim em sua nova forma, em uma nova dimensão e que cresce de forma progressiva e degenerativa.
Essa trajetória tem sempre como tema a doença de Parkinson e tem evidentemente um final que nem sempre pode ser um final feliz, embora me esforce para consignar uma configuração que traduza a realidade construída no caminhar ou seja no escrever. Uma escrita e um pensar que incorporem a doença e a vontade de cura dos parkinsonianos. Para elucidar o antagonismo existente não conheço nem uma técnica que amenize os efeitos da doença e nem tão pouco a existência da cura. Nisto consiste o melhor da escrita que funciona como um desejo de busca, de compreender o que muitos não compreendem e de se fazer compreender por muitos outros que esforçam para entender. Prossigo na escrita que não considero um começo mas a sua possibilidade de ser um inicio do que quero e busco desde o começo de minha doença. Esta sim, foi um começo agora quero o que todo o doente deseja; ficar bom.
Essa é a grande pergunta, para nenhuma resposta. Eu não conheço resposta, mas, exijo e persisto em procurar o que também não sei onde encontrar. Fica difícil, é complicado saber o que ainda vão descobrir. Tai, um atenuante a convicção de que vão descobrir a cura do Parkinson é um avanço não apenas de perspectivas, mas de mente. Isso posto fica evidente que trabalhos bem planejados, estratégias eficientes, iniciativas inteligentes e arte estão presente e permanente na busca pela cura. Sinto-me como se fosse eu na labuta do laboratório rompendo os paradigmas da ciência e caminhando fazendo o caminho a caminhar. Alguém ao ler poderá dizer. É somente fantasia, sonhos que não leva a nada. Quem pensa assim sabe que essas duas palavras tem sido fundamentos para os poetas compor suas poesias, compositores suas musicas, escritores suas historias que sempre se realizam. Assim me chamem de utopista, de escatológico, mas não me tire o direito de formular em minhas crônicas o meu desejo e a vontade dos parkinsonianos com o sonho da cura.
Procurando uma coisa sempre achamos outra e essa assertiva no induz a continuar procurando, procurando na ciência, na filosofia, nos terreiros no céu e na terra, enfim em algum lugar encontrarei a resposta que procuro, por enquanto permaneço escrevendo e rezando com a mesma determinação de sempre.
Quando menino me chamavam de teimoso, e hoje mais do que nunca tenho mantido essa característica de teimar para manter meu desejo de escrever sobre Parkinson e do desejo da cura e de forma permanente.
Reporto aqui o pequeno parágrafo da biografia de Clarice Lispecto, quando ela relata um telefonema para Alceu Amoroso Lima: “uma vez telefonei para ele, pedindo para ve-lo. Ele disse: - eu sei você quer conversar com Deus.”
Se eu telefona-se a um amigo e ele me pergunta-se a mesma coisa diria com muita convicção. Estou com vontade não somente de falar com Deus, mas escrever para Deus. Na realidade falo com Deus todos os dias em minhas orações, mas hoje estou com comportamento de menino em época de Natal, desejando escrever a Papai Noel, pedindo seu presente de Natal. A minha vontade é escrever a Deus. Será que terá efeitos maiores que uma oração. Nos costumes dos homens sim, papel assinado vale mais que discursos ou palavras. Procurei como se escreve a Deus em Santo Agostinho, São Tomas de Aquino, e outros doutores da Igreja, procurei nos Apóstolos principalmente em Mateus e constatei muita conversa com Deus. Todos são unanimes no ensino da oração.
Pensei também na internet através da sensação do momento o facebook e usar a minha fé através da tecnologia. Nessa tentativa de escrever a Deus, descubro que Deus deixou tudo escrito através das “ Escrituras Sagradas” instrumento de fé, graça e revelação e são através do que está escrito que a ciência se curva e aceita as escrituras como ciência da teologia. E São Paulo afirma: “ela é uma sabedoria revelada pelo espírito, e não pela razão”. (I corintio, 2). É tão importante a escrita que Deus antes de tudo mandou através de seu Profeta Jeremias um de seus mais eficientes recados aos homens. “nas suas mentes imprimirei as minhas leis, e nos seus corações as escreverei.” Na mente que Jeremias falou hoje esta instalado o Parkinson e no coração a minha fé. Tai a forma de escrever a Deus. Escrever com a alma, com o espírito e redigir com o coração. Porque a alma proporciona ao homem sua inteligência, o espírito permite a termos consciência de Deus e nele consiste a realização das nossas vontades pela fé.


Escrever a Deus quero muito, mais qual o instrumento uso para realizar minha vontade pela fé? Uma carta a moda antiga com o Credo Niceno; um email com cânticos seguindo o conselho de Santo Agostinho; escrever uma oração inédita em crônica, seria sem duvida uma proativa iniciativa, ou enviar a Deus uma poesia. Pronto encontrei a forma ideal. Uma poesia externando a Deus minha necessidade. Mas, eu não sei fazer poesia, nunca fiz, principalmente, a Deus. Foi quando meu habito de pedir a intercessão de Maria para as coisas que considero impossível, minha mente me remete a Portugal e em Portugal ao acervo de poesias de Olivia Marinho e de cuja poesia faço uso para escrever a Deus. “Quero ser aquilo que Deus quiser….Até quando ele quiser. Olivia em sua poesia dar seu recado e conclui sua poesia com uma convicção de fé. “E Há-de ser o que Deus quiser”.

Nunca gostei de dizer frases como: “seja o que Deus quiser”, “estou doente por que Deus quer”, “foi vontade de Deus”. São frases que demonstram fragilidade da própria fé e crer para mim sempre foi um desafio e hoje acometido da doença do Parkinson, procuro revigorar minha fé, revitalizar minhas esperanças e crer sempre mais na vontade de Deus, mas dizendo sempre a Deus minha opção “ feliz de quem atravessa a vida tendo mil razoes para viver”. Porem consciente que antes de qualquer manifestação de perguntas a verdade por Deus já é conhecida. Daí porque Santo Agostinho nos ensina: “crer para que entendas”. E é com Santo Agostinho que explico minha contradição com a poesia de Olivia. Em Agostinho a fé se apresenta como construção humana e aposta em Deus. A poesia de Olivia evidencia o processo do acolhimento da vontade de Deus e aposta no acolhimento dessa vida. Na realidade são duas vivencias única a um único Deus, em duas faces humanas.
Se crer tem o poder de conduzir a Fé, a poesia encanta e tem o poder persuasivo do convencimento; mas esta em Deus o poder da cura.
As indagações são muitas de como viver e praticar os valores cristãos, quando subtraíram minha saúde, como mante-la dentro de uma conjuntura sem perspectivas de melhoria farmacológica; como perseverar sabendo que o nosso corpo não nos obedece porque nossa mente esta em processo degenerativo.
Para encontrar respostas tenho indicadores que aumentam minha fé e corroborado pela fé escrevo a Deus, e transcrevo na integra a poesia de Olivia com o conselho de Dom Bosco: "O que somos é presente de Deus; no que nos transformamos é o nosso presente a Ele". E assino com fé as minhas contradições.

Comentários

  1. A minha fé


    A minha fé não é demonstrada pelos Pai Nossos que eu rezo, pelas idas á missa, os terços, talvez o devesse rezar mais vezes mas na verdade não me dá para isso e estar a fazer uma coisa contra a vontade não será propriamente demonstração de fé.
    Até a ida a FÁTIMA não me seduz verdadeiramente, conheço pessoas que dizem que só de entrarem no recinto, sentem algo diferente, eu tenho que ser sincera, não sinto nada de especial, mas há um momento que me deixa verdadeiramente emocionada, a despedida á Nossa Senhora, há ali uns minutos que têm o seu encanto, uma magia, uma união entre todos os povos presentes no recinto, porque as pessoas até podem estar distraídas enquanto dá a missa, mas na hora do Adeus á Virgem, não há ninguém que não o faça e quase todos se emocionem.
    Naqueles breves momentos a emoção é difícil de explicar, muita coisa nos vem á cabeça, os que já partiram, as nossas aflições, os pedidos de intersecção à Nossa Senhora por aqueles que mais amamos e ainda que nós possamos ter saúde para os acompanhar.
    Penso que não há ninguém que passe ao lado desse momento e os amigos juntam-se na mesma dor, no mesmo lamento.
    Para mim essa é a verdadeira magia que a fé pode fazer e que me faz acreditar que vale a pena os sacrifícios de todos os dias, ajudar um amigo, um doente, apoiar alguém que está perdido ou confuso, não é só dizer que temos fé e prontos acomodamo-nos ouvindo umas missas, levando isso como rotina.
    É assim que se prova que tem fé? Isso basta?
    Eu penso que primeiro tenho que acreditar que existe um ser superior que pode olhar por nós, ou então nomeia pessoas cá na terra para o ajudar e essas sim têm Deus dentro delas, só depois então a minha fé é testada precisamente no bem que eu possa fazer para ajudar alguém, abdicar do meu conforto para ajudar, pois a fé é como a minha consciência, está sempre presente e eu tenho que fazer aquilo que ela me manda.
    Não é dizer que se tem fé assim a troco de nada.
    Pois quem tem fé acredita no bem, faz tudo para que os outros se sintam bem, pois temos uma alma para dar a Deus e como se costuma dizer; “ A fé é que nos salva”.

    Olivia Marinho

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