Resiliencia
Há muito que procuro uma palavra que justifique tudo que escrevo sobre Parkinson. Faço uma verdadeira busca no meu acervo, são poucos livros, mas posso chamar de acervo. Termino sempre encontrando o livro aleatoriamente e consequentemente encontro a resposta e foi assim que aconteceu procurando a palavra “resiliência”, que significa: a habilidade de persistir nos momentos difíceis mantendo a esperança e a saúde mental. Pessoas altamente resilientes, tornam-se mais fortes após situações difíceis. Por que isso acontece? Porque elas desenvolvem confiança em si mesmas aprendendo novas formas de lidar com os eventos. (Blog de Angelita)
Não só encontrei a
palavra que procurava como o livro que não procurava, que, no entanto, me
forneceu todas as informações que necessitava. O
que não sabia, o livro Clinica do Discurso de Sandra Maia F. Vasconcelos me
forneceu o que queria aprender para depois escrever minha mensagem. E a minha
mensagem também retiro do livro, logo no sumário, quando a autora explica que a
clinica do discurso é uma forma de escuta que valoriza o que o sujeito tem a
dizer, o que ele conhece sobre o que sente, o que espera de si mesmo e de suas
habilidades. Foi escrito para educar muita gente que necessita dizer o que
sente e não sabe explicar. Nisto consiste até o silêncio do sujeito. Em sua clínica
do discurso, aprendi que, certo ou errado, o que importa é o sujeito que fala.
Na minha leitura me ponho no sujeito que fala, pois o que escrevo é o que sinto
e o que sinto é a palavra chave “resiliência”. É a minha luta cotidiana para
fugir não da doença, mas das adversidades que ela traz. Tremor, dor que não
sinto e dor que sinto, que é a mesma dor, pois é a alma reclamando da dor no
corpo, que não sinto, mas que está contida na doença. Para entender essa dor, é
preciso praticar a clínica do discurso. A clínica do discurso abre a porta para
que a arte de escutar seja ouvida lá dentro do seu interior como a dor que
sinto. Tudo isso na concepção do saber a partir das relações entre o fato e o
contar. No meu caso, o escrever. Quem escreve
na concepção de doente de Parkinson evidentemente caminha pelas dificuldades
que enfrentam, da degeneratividade progressiva que o remete ao futuro na
construção de sua doença, antes que o futuro chegue.
A resiliência é a atitude, o comportamento, a ação,
a pesquisa, a autonomia que somadas formata a sua capacidade de resistência.
Não quero e nem desejo que o que escrevo seja interpretado como auto-ajuda, mas
como diz Winniccott, citado por Sandra: “A tendência humana normal a comunicar
é provavelmente nascida da necessidade que temos de mostrar o que temos de
melhor”.
Quando escrevo procuro então ser o discurso do que
sinto com a doença; mesmo sem a coragem de dizer, digo levando à tona um pedaço
da minha doença que na verdade é a formação da conjuntura que vou construindo
na minha vida de doente. É uma forma de expelir o que a alma reclama do corpo
que fala, sem nenhuma palavra dita. O corpo não obedece aos comandos, o braço
pesa, as mãos tremem, as pernas enrijecem, as palavras desaparecem; somente a
clínica do discurso me escuta na insistência de ouvir, não para curar, pois
ainda não existe o discurso da cura do Parkinson, mas existe ainda a
resiliência do discurso, do meu discurso, do discurso da autora que me ensinou
a arte de escutar, para aprender a escrever o discurso do doente de Parkinson.
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