A FELICIDADE

A FELICIDADE
A felicidade no parkinsoniano seria ela uma afirmação ou uma interrogação? A importância dessa afirmação e sua resposta mais concreta estão contidas em cada parkinsoniano com sua vivência com a doença. É bom lembrar que cada pessoa é naturalmente um organismo distinto, mesmo que seja tratado pela mesma equipe médica e que tenha os mesmos cuidadores e as mesmas condições de vida, ou os mesmos medicamentos, sempre será uma pessoa única.
É nessa particularidade que se insere toda problematização de ser feliz ou ter a felicidade convivendo lado a lado com a doença. Ou seja; um outro a lhe constituir. Outro indesejável, mas que sou obrigado a conviver e refazer a felicidade com o outro.
Primeiro a questão nos remete a tentar compreender o conceito de felicidade e dos sentimentos de ser e ter. Como também nos leva aos primórdios da filosofia com Parmênides, o primeiro filosofo a colocar explicitamente o conceito de “ser” (século VI a.C. - século V a.C.). Está lapidado até os dias de hoje o mais antigo registro com uma extraordinária concepção de quem fala com a razão filosófica. – “É e não é possível que não seja - não é e é necessário que não seja. Assim, se A é ser, e B não é A; então B é não ser, ou seja, não é.”
Às vezes é instigante, como também complicado, entender filósofos. Eu mesmo reconheço que em virtude do meu escasso saber em muitos momentos não os compreendo, mas também não desisto; vou procurar respostas em outros e em tantos outros e nem sempre encontro.
Lendo Parmênides fui compelido a assumir essa atitude de procurar respostas a perguntas dos outros. Continuei lendo e procurando decifrar a equação complicada de Parmênides, MANTENDO a convicção de quem afirmou século antes de Cristo e com a curiosidade movida por minha vontade de compreender e de repassar aos outros AQUILO que EU MESMO gostaria de saber.
Após horas de estudos, cheguei a uma conclusão, inseri na equação a palavra felicidade. E encontrei: “ felicidade é e não é possível que não seja”. Essa interpretação me deixou entusiasmado. Pois representa que a felicidade é “ser” e “ter”. Veja : “A” felicidade não é e é necessário que não seja. Isso porque a felicidade ela própria está contida em mim e que necessariamente, não seja. A primeira é uma afirmação do filosofo cuja extraordinária sabedoria constitui a felicidade como uma construção e não como uma coisa achada ou descoberta. É uma afirmação determinante e que até os dias de hoje é analisada pelos que ainda teimam em procurar a felicidade e não perceberam que o ser é construir para ter e tendo conservá-la e então compreender que cada um constrói sua equação do ser e do ter, e somente assim construindo torna-se possível edificar sua própria felicidade.
Porem agora vem o mais difícil: como ser feliz e construir essa felicidade se esse outro é uma doença e, ainda mais, sem cura? Nem Parmênides me respondeu. Como agir nessas condições? E sem experiências; onde vou buscar respostas?
Voltei à atitude de procurar respostas e agora para um intruso em meu cérebro. Constatei mais uma vez que não podia enfrentar sozinho o desafio que estava além de minha compreensão, e impossível de aceitar. Porém tratei logo de me conscientizar de que agora a tarefa seria mais fácil, não se tratava de construir, mas de conservar a felicidade já existente.
Fiquei atônito. Esquadrinhava em mim mesmo para ver se havia entendido o que estava acontecendo: de um lado a doença e do outro minha resistência e a conscientização de que tinha que preservar minha felicidade. Jurei a mim mesmo: o intruso tomou conta de minha saúde, mas minha felicidade será resguardada.
Dei-me conta que mais uma vez tinha resposta convincente as minhas indagações. DAÍ VEIO-ME A REFLEXÃO: se havia encontrado para mim, evidentemente seria útil aos parkinsonianos. Mais uma vez vencia Mr. Parkinson! E quando isso acontece, sinto que meus neurônios ficam saltitando de alegria como SE estivesse eu repondo a dopamina consumida. E assim, mais uma manhã SE REALIZA! Sinto que sofrimento e inquietude estão ausentes. A felicidade CERTAMENTE CARREGA EM SI muito de paz interior.

Comentários

  1. Deixo-lhe meu depoimento, como pessoa afim e simpatizante de suas crônicas: embora sejam muitas as nossas preocupações com limitações, precisamos nos deixar embalar pelo prazer em sua plenitude. Observo, sinto, vivo e valorizo cada conquista, por pequena que seja, o que fortalece meus neurônios e me impulsiona à amenizar sofrimentos.
    E viva o prazer, permita-se a embriagar por ele!

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  2. O parkinson tem o poder de nos fazer entender sobre muitas coisas que antes, envolvidos nas ondas de uma vida superativa, não percebíamos!A felicidade é uma delas. Vivendo em camêra lenta ou parados no acostamento da vida, por algum motivo parkinsoniano!podemos observar a vida nos seus mínimos detalhes, por ex:viagens pra praia nos fins de semanas e feriados, ficar perdido e suado no meio do transito,dormir até mais tarde e sempre ter vontade de ficar um pouco mais na cama, chegar cansado do trabalho,ir a feira e encher a geladeira de frutas, dar uma corrida no quarteirão, brincar com os filhos, correr com os cachorros dentro de casa,carregar os netos, cozinhar pra família no Natal e estar com a agenda sempre cheia de convites para eventos sociais, etc...cada um pode usar a imaginação e ver o que muitos não viam e que o parkinson veio nos mostrar "Eu era feliz e não sabia"!

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    1. Boa Noite, Elisa. Não estou em câmera lenta, nem ainda estou como a preguiça, mas com a satisfação de ser humano. Quero dizer saudades... de suas criticas, de suas analogias. Gostaria de saber como anda de saúde, e como vai no estacionamento da vida. abraço

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