LIVRO DE JÓ
Estava lendo o livro do Rabino Harold Kushner, e deparei com uma frase no livro, que me surpreendeu. “Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia”. Logo em seguida Kushner justifica a frase numa verdadeira apologia ao conteúdo do livro. “O livro de Jó é provavelmente a maior, mais completa e mais profunda discussão jamais escrita sobre o tema das pessoas que sofrem”.
Nisso parei a leitura do livro do Rabino e fui ler mais uma vez a Bíblia, mais especificamente o Livro de Jó. Às vezes é assim, começo lendo um livro e sou induzido a ler outro livro. Neste caso específico fui induzido pelo Rabino em função das suas abordagens sobre Jó. Já li o livro de Jó várias vezes, mas em todas as leituras persistia sempre a sensibilidade de reconhecer a dimensão da história com a mesma interpretação do Rabino Kushner, como alento aos que sofrem pela fé tendo Jó como exemplo de magnitude, compreensão e obediência que sobrepõem qualquer exemplo humano.
Eu entendia Jó como exemplo de doação pela fé. Relendo mais uma vez aprendi a existência da espontaneidade conjugada pela fé como necessidade de administrar situações adversas e remotamente impossíveis de contornar. Fui relendo, relendo e o que antes para mim era somente religião modificou-se: comecei a entender também como maneiras de resolver as problematizações da vida em todas as suas tristes formas, numa sucessão de fatos que perpassa intempéries, desastres, perdas de bens e da saúde sem, no entanto, abalar em Jó sua estrutura e convicção de vencer.
Os fatos devidamente administrados não podem ser reconhecidos apenas como exemplo de vitória, mas, sobretudo, de conquista administrada e alcançada. Conquista da soma de vários fatores que o leitor não pode omitir como aprendizagem de sua leitura, para o aprimoramento da vida nas mais adversas situações. Essa é a vida de Jó: uma repetição de fatos que vai de exemplos de grandeza à fraqueza da fé. Que culmina em dialogar com Deus.
Com certeza a conversa com Deus foi o momento mais importante para Jó; surpreendente é que também já foi para mim. E essa mudança foi decorrência da minha insistência em reler e reaprender a lição de Jó. E comecei fazer analogia à sabedoria de Jó em alcançar resultados pela Fé sem, contudo, perder a confiança no poder de Deus. Ou seja, sem misturar ciência com Fé, mas ao mesmo tempo procurando a ciência da administração nas ações de Jó. Como fui obtendo isso? Sem discernimento e sem julgamento. Quem ler o livro de Jó pelos parâmetros da justiça vai terminar fazendo deduções de que se Jó é inocente, Deus é culpado. Pela analogia cheguei a outras conclusões. Que o livro de Jó é ciência da administração. Pois se administrar é resolver problemas, na historia só encontramos problemas e mais problemas numa sucessão de fatos impressionantes que se tornam o cerne do livro.
O capitulo 28 do livro de Jó versa sobre sabedoria e inteligência e tem como titulo “origem da sabedoria” e em seu versículo 20 temos duas perguntas: de onde vem, pois, a sabedoria? Onde está o jazigo da inteligência? Eu pergunto: quem dos leitores sabe responder sem colar? Talvez façam como eu, continuei procurando nas atitudes de Jó a resposta. E fui lendo, aprendendo que cada ação de Jó tinha um liame com a ciência da administração. Fui adquirindo, a cada parágrafo, mais convicção de que Jó administrava com inteligência e sabedoria passo a passo os problemas. Desde aos animais levados pelos Sabeus ao fogo que consumiu as ovelhas e os escravos, no extermínio realizado pelos Caldeus, a perdas dos filhos até a doença, o comportamento de Jó não oscilava, permanecia constante numa sequência de tolerância, compreensão dos fatos, visão dos acontecimentos, de coordenação e controle do corpo e das situações características que só os grandes administradores pensam.
Pensava comigo mesmo: diante de tantos problemas, Deus não quer apenas falar dos caminhos da fé. Então fui fundo a procurar um contexto que identificasse os caminhos, as respostas que não viessem pela aplicação da fé. Mas em nenhum momento identifiquei a fé separada dos atos de Jó; estava sempre concatenada com os atos que fui considerando administrativos. Razão e fé juntos. Eis a grande lição administrativa. Num comparativo com Salomão, é bom o observar que Salomão administra situações adversas, Jó administra o caos, numa competição com o Satanás que ele ignorava e atribuía aos castigos de Deus.
Lendo e analisando o Livro de Jó, constatamos que Deus nos coloca numa situação de competitividade através da leitura e de muita reflexão; se somos capazes de assumir e administrar as mesmas situações com tanta convicção quando, prosternado por terra, Jó afirmou: “nu sai do ventre de minha mãe, nu voltarei.” (Jó, 20:21). Essa afirmação é o começo da história, mas é também o seu final, pois a sua fé estava impregnada de sabedoria e inteligência. No capitulo 28:28, temos: “O temor ao Senhor, eis a sabedoria; fugir do mal, eis a inteligência.”
Foi o que fez Jó em toda sua vida: escolheu o temor a Deus, e sabemos que para administrar temos que saber escolher, sabendo escolher é consequência natural; fugir do mal. O Satanás escolheu errado, por isso perdeu.
O Livro de Jó nos oferece soluções significativas e nos evidencia que as coisas não acontecem sem razão de ser, pois, se assim o fosse, nada seria, não necessitariam de pesquisas, de estudos, de experiências, de certo ou errado. Permanecer lendo Jó e afirmando que apenas leu com certeza vai levar a perder a batalha contra o Parkinson. É preciso aprender que o alcance de compreensão demonstrada é o da sabedoria, dando a cada um a capacidade de conhecer e tirar lições pessoais das coisas que acontecem na vida. E para nós portadores de Parkinson fica a lição de saber administrar a progressão da doença e saber conviver com o sofrimento que a doença impõe.
Planejar em receber seus três amigos, ordenar os acontecimentos e organizá-los em meio ao sofrimento, dirigindo e controlando todos os fatos é ciência pura que alguns atribuem à arte de saber administrar. No diálogo com Elifaz, fica evidenciado o estado de magnitude de saber pedir: “ensinai-me e eu me calarei, mostrai-me em que falhei” (Jó, 6:24). Assim como a administração ensina que, para saber vender, fundamentalmente é preciso saber comprar, na relação com amigos se faz igualmente necessário saber pedir para alcançar os seus objetivos.
Para terminar, perpetro com muita confiança uma sugestão: a Leitura do Livro de Jó é uma leitura obrigatória a todos nós parkinsonianos imbuídos da fé ou não.
Reporto aqui Naum Volzinger, quando afirmou numa tentativa de explicar os seus estudos científicos: “estou convencido de que Deus governa o mundo pelas leis da física”. Esquecendo que ele é o criador, “Onde estavas quando lancei os fundamentos da terra”? (Jó 38:4), esqueceu também que há pouca coisa tão poderosa quanto o mar. No entanto, Deus é que determina seu limite.
Consciente estou, após a leitura, de que meu limite de fé não possui a dimensão de Jó, mas cresceu na proporção e na vontade de viver. Por não pertencer aos adeptos do rigor cientifico, nem ser fanático religioso, permaneço na busca da melhoria da minha saúde, com Deus e a ciência; pois é confortante crer em um Deus que permanece ao nosso lado mesmo nas piores enfermidades e a nossa nos leva a grande sofrimentos e nos conduz ao choro. Pois são essas lágrimas que me levam a pedir a Deus para que nós parkinsonianos possamos alcançar a cura. Cabe, portanto, concluir parafraseando o final da história de Jó mesmo velho e cheio de dias.


Sávio, seu blog é uma belíssima iniciativa!
ResponderExcluirAo ler a sua crônica senti-me persogem.Isto porque, na vida,passamos por situações que procuramos explicaações e não as encontramos. No meu caso, refugiei-me nos braços de Deus.
ResponderExcluirDivulgue! Esta crônica precisa ser lida, não só pelos parkinsonianos, como qualquer ser humano!
foi muito bem posta a frase que diz:
ResponderExcluir"pois é confortante crer em um Deus que permanece ao nosso lado mesmo nas piores enfermidades e a nossa nos leva a grande sofrimentos e nos conduz ao chor."
é isso mesmo que acontece, ele sempre está ao nosso lado, basta confiarmos sempre nele que da tudo certo. suas crônicas são muito interessantes. Parabéns Domingos!
bjãooo
Edlane Mirele