EM QUE TEMPO...
Em que tempo o tempo é mais importante? Taí uma pergunta intrigante que quase todos fazem para si e para os outros com os quais o nosso tempo está relacionado e muitas vezes na dependência dos resultados de centenas de relacionamentos, sejam eles nos negócios, nas amizades, no lazer, na oração, no trabalho e no amor. Cabe aqui ressaltar um momento do livro do Pequeno Príncipe, enfatizando o quanto o tempo é importante, quando demonstra a sua capacidade e compreensão de esperar pela realização de sua vontade.
É imprescindível evocar os eivados esforços que o problema do tempo tem sido abordado e objeto de pormenores estudos intelectuais de diversos pensadores, reconhecidos pela proeminência de suas mentes em suas respectivas épocas e áreas de conhecimentos, dos quais podemos citar: Parmênedes, Heráclito, Demócrito, Platão, Aristóteles, Isaac Newton, Kant, Hegel, Albert Einstein, Gregg Braden. Esses homens com suas ideias atravessaram séculos sem se evadir das páginas de quem escreve sobre o tempo e, primordialmente, da sua importância nas atividades humanas.
Nesta relação, deixei, propositadamente de fora, o representante da igreja. Depois ninguém melhor para justificar a sua presença o sentimento de Edmundo Husserl (1859-1938-Lições): “A análise da consciência do tempo é uma antiquíssima cruz da psicologia descritiva e da teoria do conhecimento. O primeiro que sentiu a fundo as poderosas dificuldades, que aqui residem e que com elas lutou até quase ao desespero, foi Santo Agostinho. Os capítulos 14-28 do Livro XI das Confissões devem, ainda hoje, ser profundamente estudados por quem se ocupe com o problema do tempo. Portanto, nestas coisas, a época moderna, orgulhosa do seu saber, nada mais grandioso e mais considerável trouxe do que este grande, na verdade, incansável pensador.”
Apropriando-me de uma frase de Santo Agostinho: “Se ninguém me perguntar, eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei”. Eu sei para quem o tempo é mais importante, mas ao mesmo tempo não sei. Não digo se for inquirido. Porém faça uma reflexão comigo e me acompanhe em meu raciocínio. Há preocupação maior com o tempo que você sabe que tudo vai se acabar numa evolução progressiva e degenerativa. É uma preocupação permanente e, nesta circunstância, tenho convicção da importância do tempo para os doentes de Parkinson. Para eles, o tempo é um perene cronômetro, onde cada minuto está diretamente ligado ao avanço dos distúrbios neurológicos. A cada dia um fato novo, que acontece no seu corpo em sua mente e, sobretudo, em seu estado emocional, que, evidentemente, exerce fundamental importância nos fatos que ocorrerão na realidade espaço e tempo.
Quando estava escrevendo essa crônica, tentando descrever o que significa o tempo para o parkinsoniano, tive que voltar a folha do caderno, justamente, quando outra folha levada pelo vento caiu no chão. Foram dois esforços simultâneos, que levaram um enorme tempo, e as folhas vinham tremendo como se estivessem com medo do tempo. Essas dificuldades, que para mim já foram irrelevantes, é o que mensura o tempo presente com preocupação no futuro e dimensiono o passado. Hoje, eu não posso afirmar que são pequenas dificuldades do presente, posso sim, ser consciente que tenho que conviver no presente com os pormenores do passado, crescendo no presente como entraves, que, talvez, não sejam tão extraordinários como o fato de cair uma folha de papel, mas é significativo, hoje, em meu tempo presente de parkinsoniano.
Essa compreensão vai além da ciência, é de quem absolve os pensamentos como Santo Agostinho, no ápice de sua análise, quando afirma:
“O que agora transparece é que, não há tempos futuros nem pretéritos. É impróprio afirmar: os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer: os tempos são três: presente das coisas passadas, presente dos presentes, presente dos futuros. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras. Se me é lícito empregar tais expressões, vejo então três tempos e confesso que são três”.
Eu, também, Santo Agostinho, “lembranças presentes das coisas passadas” foram inúmeros momentos da vida em que não percebia as folhas caídas e muitas vezes despercebidas no chão, às vezes até decoravam o chão com as alternâncias de suas cores. Mas mamãe dizia que sujava. Hoje, casado, a esposa diz a mesma coisa a mim e aos nossos filhos. Nesse contexto, essa realidade foi nos três tempos. “Visão presente das coisas presentes”. Não sei explicar, Agostinho, Kant, e os outros monstros da filosofia, mas sei dizer minha visão presente das coisas presentes que, no momento, se configura na esperança e na fé. Na esperança compreendida na perspectiva de mudança, requerida no conhecimento e reconhecimento da ciência, alimentada pela fé, como esperança presente das coisas futuras.
Pois tenho a convicção de que não existe esperança sem a fé. É como um processo contábil, não existe crédito sem débito. É a união dos opostos que provoca os resultados. É nisto que consiste o tempo para todos, menos para os parkinsonianos. Pois quando a dopamina é debitada não existe, mas o tempo para o crédito. É degenerativo o tempo parkinsoniano, um tempo sem contrapartida permanece apenas o débito. Fica tudo no escuro. A contrapartida é a luz da fé como esperança das coisas futuras.
Esta é a lei, onde é preciso existir anjos e demônios, céu e inferno, claro e escuro, luz e trevas, longo e curto, tudo. Tudo com sua contrapartida. Isso dentro de um determinado tempo, que é administrado por cada um, seja no presente, no passado ou no futuro. Uma vez que o campo é independente de tempo e espaço, vamos apostar no tempo como esperança presente das coisas futuras.
Pai,
ResponderExcluirGostei muito!
A cofundadora da minha comunidade costuma dizer algo muito interessante sobre o tempo: Tempo é amor! E uma criatura de Deus feita para nos servir.
Podemos aprende muito com isso.
Obrigada por me enriquecer com suas palavras.
Com amor,
Savânia Biondo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito lúcida essa explanação sobre o tempo, gosto desse tema e poderia falar muito sobre esse assunto, mas uma coisa que o Parkinson me ensinou é que não tenho mais tempo para divagar, rodear,florear ou abstrair. Tenho que ser o que antes achava impossível ser:direta e resumida!sempre atenta,vigilante, nunca mais desligada ou distraída.Tenho que olhar bem por onde ando e contar passos e palavras rapidamente antes que fique cansada e com falta de ar.Vigiar a entrada e saída do ar para não engasgar comendo ou simplesmente sorrindo!
ResponderExcluirHá tempos que tenho que me conformar e aceitar andar no tempo do Parkinson ou dos seus medicamentos. Sem poder planejar como será minha próxima hora,tenho que aceitar que não sou mais senhora do meu tempo, e as pessoas se irritam quando me peguntam se vou fazer algo ou ir em algum lugar e eu conformadamente respondo, não sei!
Arrumei um jeito de definir meu tempo cronologicamente falando, chamo de tempo útil, quando posso fazer o que gosto ou preciso,um tempo que posso chamar de meu!
Quanto a doença ser progressiva e degenerativa, a vida também é, todos caminham para o fim, nosso corpo é de material perecível e alguns tem uma data de validade menor.Por isso amigo, temos que ter coragem de viver sem desperdiçar nosso pouco tempo útil e presente,sem lembrar que estamos em contagem regressiva.
Simj, td q vc disse é verdae, é minah principal preocupação, atre qdo vou ter qualidade de vida, vou andar, sem precisar de algume, vou comer, VIAJAr, viver, ser aq teerei esse tempo,
ResponderExcluir. será q tenho q aguentar os problemas HJ, por cuaS DESSE TETMPO, PROBLEMAS D ERELACIONAMENTOS, OU POSSO DA RA VOLTA POR CIMA
. VC ME FEZ REFLETIR...
O tempo passa em nossas vidas, apenas damos o devido valor a ele, quando uma necessidade se apresenta em nossas vidas ou quando aprendemos a nos amar..ai percebemos que ele é curto e que não pode ser disperdiçalo com coisas infimas, o tempo nos tras angustias, sabedoria e bom senso... "ai a gente começa a se amar de verdade..começa a meditar diariamente, e descobri que este é um ato de amor por si mesmo", o tempo é nosso melhor conselheiro
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