FILOSOFIA NO PARKINSON

Quadro Relax por Carol Maybin
É realmente ousadia partir da filosofia para chegar a compreensão do Parkinson. É minha segunda crônica com esse contexto e evidentemente minha segunda tentativa, embora extra oficialmente venha estudando e refletindo como forma de exercitar antecipadamente o que hoje transcrevo para o papel e respectivamente fazer a postagem.
Não é fácil enveredar por dois caminhos científicos quando tenho apenas o conhecimento pratico da doença há dois anos e meio e um empírico e muito elementar conhecimento de filosofia. No entanto é um desafio que vou enfrentando não somente para obter respostas como também tem sido uma forma de descontração tão necessária e que já observei que meu corpo cobra assiduamente em cada rigidez, cada tremor, cada movimento involuntário uma atitude contraria, exigindo um contra ponto para amenizar o sofrimento do corpo.
Como a doença tem o cerne de seu comando no cérebro e ocorre em função da perda da dopamina e sendo degenerativa, crônica e progressiva, cuja diminuição da dopamina nessa área provoca sintomas principalmente motores, a vitima, é o corpo que se manifesta pelos sintomas já mencionados, e mais a diminuição da velocidade dos movimentos e distúrbios do equilíbrio e da marcha.
Os medicamentos apesar de sua eficiência, não vem atendendo minhas ansiedades. Daí, tenho a necessidade premente de buscar alguma coisa que também agite os neurônios e escolhi a filosofia como instrumento para essa atividade. Ou seja, fazer uso da filosofia como diálogo é usar a filosofia como instrumento, é reconhecer seu caráter dialógico do pensamento, é vivenciar o caráter problemático da doença e questionando ser também objeto de reflexão. Neste sentido, o meu pensar é critico aplicado ao próprio pensar.
É como tivéssemos ocupando os neurônios com outra atividade para diminuir sua proeminência degenerativa e nada mais salutar que a filosofia, pois esta pelas suas características próprias é por excelência uma ciência inquisitora é o que mais necessito visando a obtenção de resultados que me ajude nessa ousadia.
Inquiri Mr. Parkinson em seu território em seus domínios é desafio para mim e exercício para a mente e ele não gosta e o que ele não gosta é o que devemos fazer para contrariar o seu puder progressivo e tome filosofia nele. Invista em seu próprio EU. Transforme seu relacionamento com Mr Parkinson numa guerra de reflexão, agir como o conceito afirma: use seus próprios conhecimentos para atingir a verdade das coisas.
E a minha verdade é o Parkinson que tenho que aprender a conviver com ele. Não importa meu repudio por ele, pois não tenho como tirar do meu cérebro. Esta alojada na região do cerebro chamado nigra que controla os movimentos e equilíbrio do corpo.
Administrar a doença é uma necessidade premente, e descobrir as formas não convencionais de conviver é o que procuro com a filosofia. Sinto-me bem nessa tentativa de transformar a filosofia num liame entre Mr. Parkinson e Eu. Posso até não conseguir nada, porem uma coisa é certa, sinto-me feliz em tentar fazer da minha dificuldade uma ação criativa, gerando no sofrimento do meu corpo um grito permanente de que nas bradicinesias é um novo tempo de começar uma nova reação. Esse pensamento existe em mim, e pertence a minha realidade interior e limito apenas a pensar, pensar e pensar. Como diz Simone de Beauvoir “é horrivel assistir a agonia de uma esperança”. Quem tem Parkinson tem esperança, e quem tem a esperança tem que praticar e se identificar consigo e com os outros, sendo capaz de viver a doença e relutar em proporções muito maior.
Vou buscar em Leônidas Hegenberg, no livro Doença: um estudo filosófico, a definição de doença. Imediatamente encontro “ausência de saúde”. Porém no lugar da definição vem outra indagação. E o que é saúde? – pergunta ele, “ausência de doença”!? Em consulta a Biblia entre vários textos relevantes a saúde ressalto dois em que Deus é também o Grande Médico: “Eu sou o Senhor, e é saúde que te trago” (Êxodo 15, 26); “De Deus vem toda a cura” (Eclesiastes, 38, 1-9). Em ambos não encontramos o conceito de saúde e no segundo a expressão de Deus; da cura pela fé. Portanto, a doença era sinal de desobediência ao mandamento divino. A enfermidade incitava o pecado que induzia ao perdão e a procura da cura pela obra de Deus.
A obra de Deus ainda existe pela fé e nunca deixara de existir assim como a doença também sempre existirá. Prefiro a doença com a perspectivas de cura pela minha fé que a ausência de Deus. Essa convicção é que me conduz a conviver com a doença e a crer na ampla possibilidade de cura.
Portanto a filosofia será um novo espaço para atiçar os neurônios com outra atividade e complexas uma vez que misturar fé, ciência e doença é muita ousadia, mas esse será meu desafio em muitas crônicas, pois sinto que meu corpo exige uma razão conceptual filosófica. A minha doença precisa da Filosofia como um liame. Sem a filosofia fico desprotegido das informações e informações técnicas da ciência sem sólida base filosófica é desprovida de argumentos convincentes e com uma forte tendência ao ostracismo de pensamento pouco consistentes à compreensão da fé.
O parkisoniano necessita do pensar e pensar certo pois pensando crer e crendo melhora a sua qualidade de vida, hoje a alternativa mais viável de se obter qualidade de vida é através da Fé e da ciência. E o caminho mais consistente é o desafio filosófico. Vou continuar praticando o meu antagonismo filosófico de achar difícil de entender filosofia, mas, acho de fácil compreensão. Essa contradição é exatamente a ausência do saber que estou procurando para aprender com mais consistência a minha doença, a aprender a ouvir o meu silencio, a suportar o sofrimento e, sobretudo fazer da minha esperança uma permanente atitude de fé.
Quando agente quer resposta a perguntas que ninquem sabe a única saída é a filosofia. O que nós sabemos sobre ciência e religião? Por analogia uma gota d’gua. Quem é capaz de responder como fomos dotados de consciência, assim como de onde provem a doença de Parkinson. Com certeza se ainda não temos respostas é porque as perguntas foram poucas, pois o que provoca resposta é justamente a pergunta formulada e não estamos perguntando em quantidade necessária para encontrar resposta de onde vem a doença de Parkinson? Quem primeiro interessou-se em saber foi James Parkinson ainda no século XVIII, depois muito poucos se aventuram em descobrir coisas novas e já estamos em pleno século XXI e as perguntas continuam escassas, e como consequência a inexistência da probabilidade de avanço em nossa melhoria da qualidade de vida e da cura.
Alguém pode até ridicularizar minha crônica com minhas perguntas, meus questionamentos, e minha fé, mas para mim representa a mesma gota d’agua no universo da ciência como indagação que pode não mudar a situação, mas me dar nova força de acreditar que novos James Parkinson, virão com coisas novas para a doença de Parkinson.
Comentários
Postar um comentário