
Rindo, dizer as coisas sérias. Leio sempre as crônicas de Rubem Alves, é fonte inspiradora do pouco que escrevo, mas muito do que tenho dito nas minhas crônicas. A frase inicial foi retirada de um texto do livro “E AÍ? Carta aos Adolescentes e aos Pais”. No livro, evidencia-se a preocupação de redigir em consonância com o título e com humor sem ironia, mas com alegria dizendo as coisas sérias.
É o que pretendo fazer, escrevendo sobre o Parkinson, aos parkinsonianos e aos cuidadores. Porém, o que quero dizer é a minha dificuldade de dizer coisas sérias, rindo. Mas sinto essa necessidade, pois quando escrevo me sinto contagiado pela alegria de transformar a dor em prazer de escrever e de escrever aos que igualmente sentem as mesmas aflições, as mesmas indagações, que afetam os doentes de Parkinson. É isso que chamo de rir escrevendo as coisas sérias; rir sentindo a dor; rir sentindo angústias; e rindo pensando na cura. Se assim digo e escrevo, tenho de contar os risos ditos pelos caminhos percorridos.
Meu primeiro riso no Parkinson foi depois de muito chorar com a mesma situação com a qual, ao longo da doença, consegui transformar em alegria de viver, ou seja, rir de um momento que, no início, parecia uma situação transitória, mas que, no entanto, é permanente em seu corpo. O tremor. Quando senti meu corpo em permanente tremor não me converti às seitas, nem aceitei a oferta de convites vindas de várias religiões que ainda hoje agradeço, pois de uma maneira ou outra me ajudaram a uma reflexão mais consistente e a permanecer na fé e de criar uma nova situação, uma maneira, um método para superar a mim mesmo.
Comecei, então, a escrever o que sentia, pensava, chorava e ria simultaneamente. Minha vontade ardente em criar algo me empurrava, continuamente, em direção à problematização da doença da qual eu não sabia nada; sabia apenas que estava com a doença de Parkinson e fui escrevendo o que sabia e o que achava que sabia, e, sem saber, fui escrevendo do medo que sentia e do prazer torturante que incidia sobre mim. Torturante pelo medo de não alcançar a capacidade de continuar escrevendo e de contar o riso que invadiu minhas pretensões de escrever, escrever rindo e dizer as coisas sérias.
Hoje, continuo escrevendo e meu tema permanente é o Parkinson e minhas dificuldades, a minha fé, os meus anseios, minhas pretensões e com certeza meus devaneios. Assim, vou, cotidianamente, convivendo e conseguindo sorrir do que não quero, porque sorrir do que não quer é algo como perdoar, ter a força de conviver com as leis contrárias, ser a contrapartida que ninguém quer, é atender a vontade que não é a sua, e, sobretudo, rindo, praticar o que você é sem medo.
A vida é eivada de novas iniciativas, tento escrever sorrindo, porque sei que tem pessoas esperando nosso riso e a cada palavra escrita um novo riso e uma nova descoberta que existe dentro de mim e conjugada a você, que tenho certeza de que vai sorrir ao ler. Também, se não sorrir não tem problema, sei que cada pessoa tem um devolutivo diferente, mas continuo acreditando em seu sorriso. Lembre-se que o sorriso do parkinsoniano parece ser dotado de mais alegria, porque leva a compreensão da mesma doença e com mais intensidade, porque leva a mesma esperança que você esperar alcançar.
“Eu normalmente, quando estou escrevendo, me sinto em meio a essa orgia deliciosa.” Quem escreveu a sublime frase foi Rubem Alves, e ele tem toda razão, a orgia, o riso, a alegria são palavras adjetivadas pelo sentimento originado de outro sentimento o ato de escrever. Escrever é sorrir com as palavras, é ordená-las para o outro sorrir e o sorriso do outro é a existência da alegria de quem escreve.
Quando escrevo, faço sorrindo na possibilidade de ser parte, fazer parte, e ter parte na construção de uma nova amizade com a família parkinsoniana que vai do cuidador ao amigo anônimo que me escreve que constrói a possibilidade da amizade e a transforma em crítica construtiva do saber com o outro, pois a ação da alegria de escrever está contida na ação do outro ler e no meu caso do outro rir da alegria de ser feliz com o Parkinson.
Não existe felicidade na doença, dirão outros. Parkinson é irreversível ou incurável?
Uma doença é incurável, quando sua evolução não pode ser detida. É irreversível quando os prejuízos causados não são recuperáveis. Li esse texto dotado de pergunta e sua respectiva resposta recentemente no facebook e imediatamente tive uma reação. Fiz uma análise e na análise encontrei dois resultados: escrever sorrindo ou entregar a minha felicidade. Optei pela possibilidade de ser feliz na doença e de construir com os outros essa felicidade. E pensei: tenho uma família maravilhosa, tenho amigos, tenho emprego, tenho fé, porque vou deixar me abater por aquilo, que, de uma forma ou de outra, todos vão ter? Ser feliz é isso, construir o reversível no irreversível, acreditar na possibilidade da cura, quando você ler que incurável é o que não pode ser detido. Nesse momento que estou escrevendo, estou sorrindo, estou tentando, estou começando e estou feliz. Sorria comigo...
O sorriso nem sempre é de felicidade, alguns sorriem quando tomam um susto, outros sorriem de medo ou de nervoso, ou de uma piada de mal gosto!ou sorriem de bobeira!
ResponderExcluirKKKKKKKK!bom é sorrir de si mesmo!Eu faço muito isso, sentada no vaso, lembro de algo e fico rindo sózinha, kkkkkk!Mas falando sério,felicidade é um estado de espirito, é uma alegria que está na alma, que sorri com o olhar,com sentimento!Eu sempre fui uma boba alegre, bem humorada, só que a "cara de parkinson" com o efeito da rigidez(congelamento)impede a expressão de alegria ou outro sentimento(alguns chamam de mascara) que não deixa saber quando estamos felizes ou não.Por isso visei aos que me rodeiam e me querem bem, para não se preocuparem quando me virem séria com o olhar parado, que por dentro, na alma eu estou feliz!até dando risada!por dentro ou por fora pois como tenho ciência disso, de vez em quando dou um sorriso de artista, aquele tipo X para sair bem na foto!Eu tô rindo disso!e vc?